Terça-feira, 7 de Dezembro de 2010
Já me tinham contado a história que numa reunião com IPSSs, fornecedoras de refeições a alunos do 1º Ciclo, um elemento do actual executivo forçou estas instituições a baixar o preço das mesmas. Quando alertado para a consequência que esse esmagamento de preços teria inevitavelmente na qualidade da alimentação das crianças, esse elemento do executivo foi peremptório “ Que baixem a qualidade”.
Na altura não escrevi sobre isto porque não quis acreditar que pudesse ser verdade, hoje verifico que afinal ainda são capazes de nos surpreender.
De ofendido a 11 de Dezembro de 2010
Sem grandes delongas, enquadramentos e explicações filosóficas, e principalmente, com todo o respeito:
E a obtenção de um curso superior, tirado com esforço, dedicação e empenho e consequentemente muito trabalho, não faz parte do conceito de TRABALHO e consequentemente da valorização (do próprio trabalho) que o senhor invoca e defende?
Perguntei e respondo-lhe desde já que a primeira parte do seu comentário assim me permite tirar essa conclusão ("trabalho, em sentido lato, que deve ser valorizado, independentemente da forma ou conteúdo que possa assumir").
Portanto, qual a questão que eu deixei no ar?
Bom-fim-de-semana
De Anónimo a 12 de Dezembro de 2010
É justamente na interrogação que levanta, que reside o cerne da questão. A valorização a que me refiro não tem exactamente e apenas o significado que ficou subentendido da sua explanação. A valorização do trabalho a que eu me refiro, relaciona-se essencialmente com o reconhecimento social decorrente do respeito pela actividade humana, enquanto factor estruturador de uma cidadania anti-barbarizada, assumindo esta condição, uma forma privilegiada de coesão social e não de clivagem social, como globalmente acontece nas sociedades actuais. Assim, a formação superior relaciona-se mais com a qualificação e promoção de competências inerentes aos dinâmicos processos de organização social do trabalho, em resposta às necessidades laborais em termos da comunidade. Ao se entender que a qualificação é componente decisiva para a valorização do trabalho, abrem-se as portas com facilidade ao estabelecimento de uma hierarquia avaliativa com desfecho na apreciação social do trabalho, dando origem a contextos interpretativos com impactos sociais (e com peso de ordem política) que facilmente instituem a segregação e a descriminação das múltiplas formas de personificação do trabalho. Assim, é conveniente distinguir conceitos. A valorização social do trabalho tem um conteúdo particular e um âmbito que se generaliza, pois transcende a mera categorização da forma e enquadramento prático em que ocorre o exercício da actividade humana no seio da sociedade. A qualificação deve submeter-se à categoria de forma que dá expressão ao exercício laboral, resultante de uma relação estreita no plano da organização social do trabalho e determinada por necessidades objectivadas, em termos técnicos e tecnológicos (e nunca numa perspectiva social para contornar comportamentos desviantes que podem ocorrer na sociedade e que conduzem facilmente à descriminação), para dar resposta às exigências que se colocam ao nível do desenvolvimento social e humano. Foi para fazer este enquadramento, que expus aquilo que você catalogou como explicações filosóficas, quando a intenção não passava de reflectir, eu próprio, e partilhar com outros, assuntos que considero de elevada importância. Naturalmente que o pretexto ocorreu na sequência de um comentário que você produziu. Enfim, que mais não seja fica a intenção.
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